"Paderne tem a alguns quilómetros de distância, as ruínas
históricas do seu castelo, que nos recorda os gloriosos tempos da fundação da
nossa nacionalidade, porque figura entre os sete castelos das armas de
Portugal.
Antes que a espada valerosa de D. Paio Peres Correia,
conquista-se o temido castelo para a coroa de D. Afonso III, vivia ali um rei
moiro com a sua família e uma filha linda como uma fada e meiga como um anjo,
que fazia o encanto de toda a gente.
Um dia a jovem princesinha iludindo a vigilâncias das aias,
foi passear sozinha para um arrabalde distante
do castelo, quando encontrou um cavaleiro desconhecido, que naturalmente
fascinado pela sua extraordinária formusura se apeou do seu corcel, e entabulou
conversação com ela. A ingénua rapariga disse-lhe que era filha do rei que
habitava o próximo castelo, e que seu pai receoso de uma próxima invasão,
desejava manda-la para distantes terras.
-Nunca deixes o castelo, disse ele. Se isso se desse, eu
viria libertar-te, e aqui voltarei todas as noites até à ponte para falar
contigo.
Ela por sua vez prometeu também não faltar, e desse esse
dia, todas as noites de luar, quando era silêncio, a princesa saia do castelo,
e dirigindo-se para a ponte esperava o seu bem amado, que chegando num cavalo
coberto de suor, trocava com ela rápidas palavras, e partia a galope na mesma
direção que trouxera.
Numa noite ele disse-lhe que se ausentava por alguns dias
porque fora encarregado duma missão de confiança. Ela ficou triste.
- Sê corajosa, tornou-lhe ele, se alguma coisa de anormal se
der na minha ausência eu virei buscar-te depois.
Por isso, quando certo dia o rei declarou que ela ia sair
dali com suas aias, a princesa disse com firmeza que preferia morrer junto com
seu pai, e que as aias podiam partir, que passado o perigo as mandaria buscar.
Assim se fez. As aias deixaram a sua senhora e dois dias depois os soldados da
Cruz investiram no castelo.
Alguns dias durou o combate porque os moiros defendiam-se
com denodo, mas quando o rei viu que a vitória devia pertencer aos seus
adversários, então temendo, não de que a vida de sua filha corresse perigo, (os
combates de então eram mais humanos do que os carcereiros das princesas da Rússia)
mas ficando entre os cristãos viesse a abjurar a sua religião, disse-lhe que ia
encanta-la até ao tempo que ela determinasse. E quando o pai pronunciou a fórmula
do encantamento a princesa com o pensamento no seu cavalheiro, acrescentou
simplesmente: “até que um cavalheiro me venha libertar”.
Terminou
a luta com vitória para os portugueses, e muitas vezes pela meia-noite as
sentinelas do castelo avistavam junto à ponte a linda moirinha, que fiel à sua
palavra ia esperar o seu libertador que nem mais voltara. (…)
Ainda
hoje pela calada da noite à luz branca do luar, se vê a solitária moirinha, que
saindo dos seus subterrâneos, vais colhendo malmequeres selvagens até chegar à
ponte esperando o seu bem-amado…
MADRESSILVA"
(A Avezinha 11 de junho de 1922, nº 12)
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