junho 18, 2013

[Antes do] Mercado de Loulé

[Antes do] Mercado de Loulé

No dia 30 de Novembro de 1890, num jornal local1, publicara-se um artigo intitulado: “Mercado Publico”, que como o próprio título sugere, referia-se à necessidade da construção de um mercado na vila de Loulé.

No citado artigo o seu autor defendia a construção de um mercado onde fossem vendidos: “as hortaliças e mais generos e ainda para o peixe”2.

Para além de se reconhecer, nos finais do século XIX a necessidade deste equipamento urbano, a sua construção seria apenas concretizada no início do século seguinte, tendo sido inaugurado no ano de 19083.

A grande questão levantada ao longo do artigo do jornal local, prendia-se, não com a necessidade da construção do mercado, propriamente dita, mas sim com a sua localização.

O autor do artigo sublinha a importância da limpeza, ou seja o recinto deveria ser facilmente limpo. A opinião pública de então considera a proximidade de água, como um factor fundamental para a localização do futuro mercado. 
(...) 

1 In: Jornal O Algarvio , semanário publicado aos domingos. O Director Político do jornal era Francisco d’Athaíde Oliveira.
2 In: art. cit, 30 de Novembro de 1890.
3 Vide: Isilda Maria Renda MARTINS, Loulé no século XX – I – Da Decadência da Monarquia à Implantação da República, Edições Colibri e Câmara Municipal de Loulé, 2001, p. 132.

P.S.B.

junho 11, 2013

A moirinha do castelo


"Paderne tem a alguns quilómetros de distância, as ruínas históricas do seu castelo, que nos recorda os gloriosos tempos da fundação da nossa nacionalidade, porque figura entre os sete castelos das armas de Portugal.
Antes que a espada valerosa de D. Paio Peres Correia, conquista-se o temido castelo para a coroa de D. Afonso III, vivia ali um rei moiro com a sua família e uma filha linda como uma fada e meiga como um anjo, que fazia o encanto de toda a gente.
Um dia a jovem princesinha iludindo a vigilâncias das aias, foi passear sozinha para um arrabalde distante do castelo, quando encontrou um cavaleiro desconhecido, que naturalmente fascinado pela sua extraordinária formusura se apeou do seu corcel, e entabulou conversação com ela. A ingénua rapariga disse-lhe que era filha do rei que habitava o próximo castelo, e que seu pai receoso de uma próxima invasão, desejava manda-la para distantes terras.
-Nunca deixes o castelo, disse ele. Se isso se desse, eu viria libertar-te, e aqui voltarei todas as noites até à ponte para falar contigo.
Ela por sua vez prometeu também não faltar, e desse esse dia, todas as noites de luar, quando era silêncio, a princesa saia do castelo, e dirigindo-se para a ponte esperava o seu bem amado, que chegando num cavalo coberto de suor, trocava com ela rápidas palavras, e partia a galope na mesma direção que trouxera.
Numa noite ele disse-lhe que se ausentava por alguns dias porque fora encarregado duma missão de confiança. Ela ficou triste.
- Sê corajosa, tornou-lhe ele, se alguma coisa de anormal se der na minha ausência eu virei buscar-te depois.
Por isso, quando certo dia o rei declarou que ela ia sair dali com suas aias, a princesa disse com firmeza que preferia morrer junto com seu pai, e que as aias podiam partir, que passado o perigo as mandaria buscar. Assim se fez. As aias deixaram a sua senhora e dois dias depois os soldados da Cruz investiram no castelo.
Alguns dias durou o combate porque os moiros defendiam-se com denodo, mas quando o rei viu que a vitória devia pertencer aos seus adversários, então temendo, não de que a vida de sua filha corresse perigo, (os combates de então eram mais humanos do que os carcereiros das princesas da Rússia) mas ficando entre os cristãos viesse a abjurar a sua religião, disse-lhe que ia encanta-la até ao tempo que ela determinasse. E quando o pai pronunciou a fórmula do encantamento a princesa com o pensamento no seu cavalheiro, acrescentou simplesmente: “até que um cavalheiro me venha libertar”.
                Terminou a luta com vitória para os portugueses, e muitas vezes pela meia-noite as sentinelas do castelo avistavam junto à ponte a linda moirinha, que fiel à sua palavra ia esperar o seu libertador que nem mais voltara. (…)
                Ainda hoje pela calada da noite à luz branca do luar, se vê a solitária moirinha, que saindo dos seus subterrâneos, vais colhendo malmequeres selvagens até chegar à ponte esperando o seu bem-amado…
MADRESSILVA"

(A Avezinha 11 de junho de 1922, nº 12)