"Eu julgo que a realização perfeita da paisagem marítima grega, tal como os poetas da Antiguidade a conceberam, está no troço da costa do Algarve, entre a Ponta do Altar e a ponta da Piedade, isto é, desde a barra de Portimão até ao fecho da baía de Lagos. Pouco paisagista, os Antigos não nos deixaram descrições miúdas nem pinturas copiadas de trechos predilectos das costas da Grécia, das ilhas Jónicas, da Ásia Menor, da Sicília, nem de Nápoles, que era a parte principal, e a mais bela, da grande Grécia. Mas nalgumas paisagens dos seus poemas, e num ou noutro pano dos ‘frescos’ de Pompeia, desenharam-se perspectivas de costa e mar que idealizavam os modelos de hoje fáceis de rever. Sobre essas paisagens, não tais quais elas existem, mas tais como poderiam ser apurados os elementos que as compõem, formou-se uma tradição por assim dizer livresca, mas indestrutível, que faz com que ainda nos bancos da escola todos nós tenhamos mais ou menos a concepção de uma paisagem marítima grega; praias de areia fina e doirada; rochas de pitoresco recorte emergindo do mar cerúleo; arvores floridas, como a amendoeira, debruçando-se sobre as águas tranquilas de curtas enseadas, etc. Os poetas da Renascença, e os seus pintores, quando tinham de preparar fundos aos quadros mitológicos, aproveitavam essa tradição e traduziam-na em linhas chamadas clássicas.”
in: Viajantes, Escritores e Poetas – “M. Teixeira-Gomes e o Algarve”, Ana Carvalho, p.149.
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