abril 05, 2012

Algarve, anos 60

«(…) Mas os tão saudosos, quanto conturbados, anos 60 assinalaram também os primeiros investimentos no turismo algarvio e o arranque de grandes empreendimentos, como os de Vilamoura e Torralta. Por isso, considero notável a sua profetização do turismo como principal sector de desenvolvimento socioeconómico do Algarve.



As palavras com que Vasco da Gama Fernandes fundamenta as potencialidades do Algarve para o incremento do turismo, constituem o cerne desta brilhante peça jornalística. (…) Demonstram-no afirmações tão modelares quanto aquela em que alude à singularidade do povo algarvio, numa espécie de simbiose entre o homem e o mar: "O mar imenso, nas suas complexidades e nos seus atractivos, modelou uma psique que não encontra semelhança noutro ponto do país. Vivendo, primordialmente, dele, o algarvio parece trazer na alma o alvoroço das tempestades e a quietude moirisca dos crepúsculos. É um ser àparte na comunidade portuguesa."


Essa singularidade do povo algarvio evidenciava-se também no dramático fenómeno da emigração e das alterações culturais (enculturação) a que se submetiam os portugueses além fronteiras: "...quando regressa, embora com modificações na sua maneira de ser é sempre o mesmo algarvio, individualista e orgulhoso, habituado à fartura e à pobreza, mas de espinha direita e alma lavada."»

Excerto texto de José Carlos Vilhena Mesquita, acerca do artigo de Vasco da Gama Fernandes, publicado na República, de 21-3-1960, intitulado "Algarve".

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