maio 22, 2012

Praia da Rocha

"Detenho-me um instante na cenográfica praia da Rocha, extasiado nos dois grandes penedos destacados e num fio de areia doirada ao pé da água azul – tudo pintado por Manini agora mesmo. A um lado a ponta do Altar entra decidida pelas águas; do outro, o esfumado Lagos mal se entrevê ao longe... Duas impressões se fixam no meu espírito para sempre: a noite extraordinária, a luz maravilhosa. A luz sustenta. Basta esta luz para se ser feliz. É ela que encanta o Algarve. É ela que produz os figos orjais, os coitos, os bracejotes, todos eles amarelos, a estalar de sumo, e destilando um líquido perfumado, e o figo preto de enxaire que se mete na boca e sabe a mel e a luz perfeita. É ela a criadora destas agonias doiradas que vão esmorecendo e passando por todos os tons até morrer a muito custo. E as noites mágicas e caladas, as noites sem lua, muito mais claras que as noites do norte, em que se distingue a brancura voluptuosa das casas e se vêem as estrelas enormes reluzindo através das amendoeiras."

in: Raul Brandão - Os Pescadores, p. 82

maio 18, 2012

Atravesso Portimão

"Atravesso Portimão de olhos postos no castelo de Arade, onde o velho poeta sonha com O Fausto, e talvez como ele em recomeçar a vida. A luz é cada vez mais viva. Um homem com dois cabazes apregoa na rua: é um tipo seco e tisnado de mouro, de camisola azul e perna nua. Passa uma carrinha guizalhando, e logo atrás outro burro com bilhas de água fresca. É extraordinário o que este pobre jerico inocente e peludo, de olhos límpidos, trabalha no Algarve. É ele que leva a fruta ao mercado e tira a água das noras. Lavra as terras calcinadas, transporta pelas estradas solheirentas, adornado com cordões vermelhos, quase uma família a dorso. Vai às Caídas buscar as grandes bilhas vermelhas que transpiram, mata a sede da gente e a sede da terra – e não sei se embala os berços... Produz muito e contenta-se com pouco."

in: Raul Brandão - Os Pescadores, p. 82

maio 14, 2012

"A mesa de Deus está posta"


Pela portinhola do comboio vou seguindo a paisagem de figueiras e de vinhas que desfila. De um lado o céu doirado e violeta, do outro todo roxo. Os nomes das estações têm um sabor a fruto maduro e exótico – Almancil-Nexe, Diogal, Marchil... De quando em quando fixo um pormenor: uma mulher passa na estrada branca, entre oliveiras pulverulentas e fantasmas esbranquiçados de árvores, sentada no burrico, de guarda-sol aberto, e dando de mamar ao filho. Terras de barro vermelho. Grupos de figueiras anainhas estendem os braços pelo chão até ao mar, deixando cair na água os ramos vergados de fruto, que só amadurece com as branduras. Uma ou outra casinha reluzindo de caiada: ao lado, e sempre, a nora de alcatruzes e um burrinho a movê-la entre as leves amendoeiras em fila, as oliveiras dum verde mais escuro e a alfarrobeira carregada de vagens negras pendentes. A mesa de Deus está posta. Estradas orladas de cactos imóveis como bronze, e a deslumbrante Fuzeta, com o seu zimbório entre árvores esguias. Ao longe, e sempre, acompanha-me o mar, que mistura o seu hálito a esta luz vivíssima.

Raul Brandão - Os Pescadores, p. 82


maio 07, 2012

Falar algarvio

Vá ver!: vamos lá com isso!; deixe-se disso!; despacha-te!, etc.

Vaia (dar de...): saudar quando se passa junto ou perto da casa de alguém ou nas proximidades de alguém.



in: Dicionário do falar Algarvio - Eduardo Brazão Gonçalves, Algarve em Foco Editora,1996.

A província

"... para os «montanheiros» da província o Algarve é apenas constituído pelo litoral e barrocal; eles vão lá baixo ao Algarve, quando descem da montanha para colocar os seus produtos, vender o carvão e o castanho que lhes dão as suas matas ou a aguardente dos seus medronhos, ou comprar peixe, o figo e a amêndoa que a serra não produz."

in: Guia de Portugal - Estremadura, Alentejo, Algarve, p. 189.

maio 04, 2012

Esteva


Esteva – Cistus ladanifer

Muito abundante Alentejo e Algarve. Usada para fins medicinais (resina). Actualmente usada na perfumaria como fixador de perfumes.

Perto de Alferce

Esteva

maio 01, 2012

Celebração 1.º Maio em Portugal

A celebração do 1.º de Maio em Portugal, era associada a uma ideia pagã ainda no tempo de D. João I, que numa carta de 1385 a considera como um costume diabólico e um crime de idolatria, o que corrobora a sua origem pagã, associada ao culto da natureza. Não obstante esta medida, a verdade é que a festa se mantém bastante arreigada no Algarve, onde se costumam realizar piqueniques no campo, e a já habitual caraloada!

Maio em Monchique


O 1.º de Maio em Monchique caracteriza-se pela conjugação dos 3 "Ms": do mel, milho e

medronho, produtos típicos desta zona do Algarve.