«A viagem não acaba nunca. Só os
viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em
narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais
que ver», sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra.
É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na
Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol
onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que
mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que
foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É
preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.» (Saramago, 1996, 257).
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