"Apesar de, com a passagem dos
anos, se ter ido esquecendo "dos textos enodoados pelos sórdidos
carimbos", Manuel da Fonseca guardou nove das 16 crónicas manchadas pela
intervenção da Censura. No livro recuperou as passagens cortadas,
assinalando-as em itálico.
Essa é a primeira surpresa destas
Crónicas, assim recuperadas à cobardia inerente a qualquer acto censório (seja
qual for a sua justificação política, ideológica e cultural), junta-se aqui a
mais absoluta mediocridade, a marca da mentalidade mais rasteira. Em Vila Real,
um pescador acha "muito demorado" o projecto da ponte e da barra (só
resolvido quase um quarto de século depois): o censor permite o
"demorado", mas corta o "muito". Queixas sobre impostos,
custo de vida, exploração do turista, construção nas arribas - tudo cortado.
O Algarve de que fala Manuel da
Fonseca já não existe. Mas ele soube captá-lo no momento em que ia transformar-
-se. Esse talento raro basta para recomendar-lhe a leitura hoje.”
Por Albano Matos, in: DN
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