fevereiro 28, 2012

Algarvias

"As mulheres são espirituosas, e engraçadas; atavião-se com graça; fabricão lindas obras de palma, pita, figo, e rendas de linha; trabalhos em que se empregão assim as que tem mais algum tratamento, como as do geral estado; e destas humas se dão à salga e preparação das pescarias, outras aos trabalhos do campo, sendo muito commum andarem nas cavas dos milhos, das vinhas, e até ceifas. Cazão cedo, aos 17 e 20 annos, e são muito fecundas."

in: João Baptista da Silva Lopes - Corografia(...) do Reino do Algarve, 1841,p.34

fevereiro 26, 2012

“Se não fosse alentejano, desejava ser algarvio; mas consola-me o facto de ter nascido perto daqui, a curta distância da convencional fronteira entre as duas Províncias, porque o Algarve, para nós, homens do Alentejo, é uma varanda corrida, ornada das mais lindas flores, em que a gente se debruça para ver o mar”
Brito Camacho (médico militar e poeta)


fevereiro 25, 2012

"Pêra, uma vila branca, fica emoldurada pelo verde das figueiras, na encosta de um monte na foz do rio Algoz. À sua frente encontra-se uma aldeia branca, Armação. Enquanto ancorámos a uma boa distância daí, foram instalados toldos na areia amarela da praia. (…)"

in: Otto Riess, séc. XIX

fevereiro 24, 2012

Portimão

"Portimão é uma vila com 6000 habitantes. Como é costume no sul, o seu exterior está caiado de um branco radiante. O estilo das casas, com pouquíssimas janelas viradas para o exterior, corresponde às necessidades mais necessárias, não existindo luxo. Quanto mais a sul, maior é a indiferença em relação à limpeza. Tudo, as casas, os utensílios, a roupa, o modo de viver, indica que a satisfação das exigências mais modestas é suficiente, uma característica proveniente do clima, do comodismo, da indolência e da preguiça. (…)"

in: Otto Riess, séc. XIX

fevereiro 23, 2012

Ancorados em Portimão - continuação

"Esperamos muito pela chegada dos funcionários responsáveis pela saúde pública e pelos alfandegários. Chegam finalmente, vindos de Silves num barco a remos, ostentando-se entre eles o “agente de figos”, uma pessoa muito original com óculos azuis-escuros (…).
Impelido por um forte vento do sul, o barco voou, veloz como uma flecha. Foi guiado com grande habilidade através da estreita entrada entre a rocha de S. João e tormentosa rebentação das ondas que se precipitavam sobre a barra. Vimos então, à direita, Ferragudo e, mais à esquerda, Portimão, ambas ligadas por uma ponte comprida de ferro que atravessava o rio. (…)"

in: Otto Riess, séc. XIX

fevereiro 22, 2012

Ancorados em Portimão

"Pela manhã, somos acordados pelo matraquear das correntes da âncora a descer. Estamos ancorados em Portimão, na costa sul da pequena província portuguesa do Algarve. Temos céu azul do lado do mar em direcção a África, mas a montanha do Algarve, a Serra de Monchique, está coberta por nuvens escuras, as quais o sol nascente se esforça por romper e as ondas mais altas batem com estrondo, desfazendo-se em espuma, contra a íngreme costa de arenito de cem pés de altura que, pela esquerda, forma baía de Lagos, a capital do Algarve, cujas casas brancas, que sobem em forma de terraço a partir da praia, espreitam através dos bosques de figueiras. O rio Silves desemboca no mar, atravessando uma larga abertura das verticais paredes rochosas, as quais, pela direita dominam as paredes brancas da fortaleza de St.ª Catarina e pela esquerda, as de S. João. (…)"

in: Otto Riess, séc. XIX

fevereiro 21, 2012

"(...) Vila Nova está numa situação pitoresca, rodeada de velhas muralhas, como todas as cidades do litoral que eram chamadas a defender-se das incursões dos barbarescos ou da pirataria não menos bárbaros.

Está situada na margem direita do rio com o mesmo nome, que é ele próprio formado pelo rio de Boina e a ribeira de Odelouca, que vêm desaguar no rio de Silves. A norte, existem as salinas e, com a ajuda da maré, sobe-se de barco até Silves. O comércio consiste em vinhos, fruta de toda a espécie, legumes, peixes de mar e de rio, todavia, até agora, faltava na cidade água potável, a qual se tinha de ir comprar longe e pagar caro. Graças ao Sr. Sarrea-Prado, Portimão terá e, breve água abundância; executou um projecto, aceite pela municipalidade, que alterará o estado das coisas e que permitirá os navios que fazem escala no porto não terem que ir a Estombar ou à Estrada de Monchique para a encontrar.

Em frente e na margem esquerda, Ferragudo está ligado a Portimão por uma boa estrada que acompanha o rio. Abriga uma população de pescadores e tem uma importante fábrica de conservas de sardinhas.

A entrada do porto, na embocadura do rio, era defendida por dois fortes: S. João na margem esquerda, que pretenderia parecer-se com Miramar, sem os seus jardins, e Santa Catarina do lado da cidade. (...)"

in:Gabriel de Saint – Victor (1824-1893)






fevereiro 20, 2012

Pesca de atum



Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa. Artur Pastor, déc. 40 séc. XX - Tavira

fevereiro 17, 2012

Pesca de atum

"A armação, engenho muito antigo, cujo nome, almadrava, cheira a árabe, é constituída pelo corpo – dividido em três compartimentos, câmara, bucho e copo – pela rabeira, que se estende até a terra, para que o atum não passe, e pelo quartel de fora, destinado ao mesmo fim, e estendido para o mar, em ângulo obtuso com a rabeira.
A armação tem às vezes a forma dum grande T, na temporada do direito, com duas bocas para a entrada do peixe servindo uma delas para a recuada da bacia de Monte Gordo. Para o atum de revés suprime-se parte da armação, ficando reduzida a um ângulo mais ou menos obtuso. A rede, de malha muito larga, mais apertada no copo, é tecida de corda da grossura do dedo mindinho. Nas bocas, que deixam entrar o atum mas não o deixam sair, está o segredo da armação."
in: Raul Brandão - Os Pescadores, 1923, p. 79

Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa. Artur Pastor, déc. 40 séc. XX - Tavira

fevereiro 15, 2012

Subir a Fóia



 "Subir a Fóia, pela estrada que vem de Monchique, é um bonito passeio que permite igualmente ir observando a mudança de vegetação à medida que se sobe (…). Entre o fim das árvores e o alto da montanha, mais longamente podemos verificar o aparecimento dos arbustos, de grande porte ao princípio, depois cada vez mais pequenos, passando do medronho à esteva, desta à urze e ao tojo e, finalmente à erva rasteira no meio de pedras enormes."in: José Victor Adragão - Novos guias de Portugal – Algarve,Editorial Presença, 1985, p.162

fevereiro 14, 2012

Lagos

"Lagos, o deslumbramento da baia, e sigo logo de carrinha pela estrada branca, entre amendoeiras e figueiras derreadas. Andam mulheres com grandes chapeletas na cabeça, a apanhar a amêndoa varejada. Às figueiras chega-se com a mão. Há algumas que deitam braços, mergulham-nos na terra, criam novas raízes e tornam a puxar outra figueira. (...)"

in: Raul Brandão - Os Pescadores, p. 82

fevereiro 13, 2012

Fóia

«...Porque, chegando ao alto da serra, o Algarve é um anfiteatro que desce em degraus até ao mar...»

in: Novos guias de Portugal – Algarve, José Victor Adragão, Editorial Presença, 1985, p.12

Carnaval

                                                                                          1952

fevereiro 11, 2012

Osga

"o viajante deve prevenir-se contra um réptil muito perigoso, o gecho, ou, como a chamam aqui, a osga. A mordidela desta lagartixa, mesmo que muitas vezes não seja mortal, é em todo o caso perigosa, especialmente quando infligida a um estranho, febril devido a viagem e ao calor do céu algarvio. Encontram-se geralmente em lugares frescos e sombrios, e às vezes refugiam-se em casas desabitadas. O turista, portanto, quando se alojar numa destas casas, deve ter cuidado com elas", John Murray III (editor) - séc. XIX

fevereiro 09, 2012

Os algarvios...

"Os algarvios têm uma personalidade muito honesta e trabalhadora, mas contudo são muito faladores", John Murray III (editor) - séc. XIX

fevereiro 08, 2012

Cabo S. Vicente, séc. XIX

"À esquerda, apercebemo-nos, finalmente, para além de uma parte da estepe que se chama de Tapada de D. Henrique e, mesmo à beira dos rochedos aprumados que formam a baía, das grandes muralhas em ruínas de uma velha fortaleza do século XVI, Beliche (…).
Vamos do Cabo de S. Vicente ao pequeno lugarejo que antecede a ponta de Sagres, seguindo a grande curva do fundo da baía. É precisa uma hora de burro e passamos a noite, um pouco ao acaso, numa das casas deste lugar.
Estes dois quilómetros são tão áridos, tão selvagens, atulhados de uma vegetação tão triste como aquela que encontramos ao chegar ao farol de S. Vicente."


Leopold Alfred Gabriel Germond de Lavigne, séc. XIX


De Lagos a Vila do Bispo no séc. XIX

"Em Lagos alugamos um carro. Durante o caminho almoçamos, na bela aldeia de Figueira, das provisões que trouxemos para dois dias. (…) Consistiam aquelas em pão de Lagos, atum seco ao sol e cortado em pedaços, sardinhas em azeite, conservas de mortadela, vinho de Portimão, água excelente, café de castanhas e aguardente de medronho.
São precisas três horas para chegar a Vila do Bispo, o último centro habitado do oeste de Portugal."

Leopold Alfred Gabriel Germond de Lavigne, séc. XIX

fevereiro 06, 2012

Algarve visto por um inglês no séc. XIX

"Esta província [Algarve] é muito bem cultivada; mas este cultivo estende-se geralmente até duas léguas para o interior, pois logo a seguir há colinas desérticas. (…)

O povo vive principalmente de peixe, e é muito pobre. Os habitantes são geralmente menos refinados e menos educados do que os restantes portugueses, mas por todo o país são elogiados e conhecidos pela sua astúcia e perspicácia (…).

(…) Em nenhum lado as estradas são tão más, nem os aposentos nas estalagens tão sujos."
Link,  séc. XIX





fevereiro 01, 2012

A propósito do Carnaval

... o actual Carnaval deriva das Saturnais romanas, herdeiras dessas cerimónias primitivas (anteriores), que se realizavam em dezembro e se caracterizavam como sendo um período de completa liberdade licenciosa, durante o qual tudo era permitido, o curso normal da vida suspenso e transtornados radicalmente os quadros sociais; a festa e a orgia eram permanentes, e desaparecia a distinção entre senhores e escravos.
(…)
As saturnais realizavam-se em Roma em dezembro. Após a reforma cesariana do calendário, marcava o fim do ano romano. Mas em tempos mais recuados, o ano começava em março (primitivamente as saturnais realizava-se em fevereiro/ março) = alteração mês realização em função calendário.
(...)
o Carnaval representa um "escape" social, fundamental para manter a ordem estabelecida por uma minoria. Pelo menos nesta altura do inverte-se toda a ordem social, aos foliões tudo é permitido, afinal é Carnaval, ninguém leva a mal!
Texto adaptado a partir da obra: Festividades cíclicas em Portugal (col. Portugal de Perto-Dom Quixote) Lisboa. 1984. 357 pp

Carnaval de Loulé, 1906


Foto: gentilmente partilhada e cedida por Luís Guerreiro


Silves