abril 25, 2015

Biocos



"É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro, envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce... Desaparecem e deixam-nos cismáticos. Ao longe, no lajedo da rua ouve-se ainda o cloque-cloque do calçado – e já o fantasma se esvaiu, deixando-nos uma impressão de mistério e sonho. É uma mulher esplêndida que vai
para uma aventura de amor? De quem são aqueles olhos que ferem lume?... Fitou-nos, sumiu-se, e ainda – perdida para sempre a figura – ainda o som chama por nós baixinho, muito ao longe – cloque..."

Raul Brandão, Os Pescadores

abril 23, 2015

A propósito do bioco

“O biôco, este extraordinario biôco, é digno de chronica para esclarecimento e regalo do leitor estranho a esta região” (“O Algarve: notas impressionistas”)


Para mais informações clique aqui: Bioco

abril 21, 2015

Em todo o Algarve a mulher é a prenda da casa



(...)
Em todo o Algarve a mulher é a prenda da casa. Trá-la muito bem tratada, muito bem fechada, restos da vida moura. A de Olhão, trigueira, de olhos negros e um lindo sorriso reservado, passa por a mais bela da província, pela vivacidade, e pela fartura do cabelo. Já em S. Brás de Alportel, ali perto, as cabeças têm reflexos doirados e os peitos são desenvolvidos. Sentadas nas esteiras sobre os calcanhares, nas casas forradas de junco ou de palma, fabricam as alcofas, a golpelha em que se transporta a alfarroba e o figo, e as alcofinhas mais pequenas, chamadas alcoviteiras. Ainda há pouco tempo todas usavam cloques e bioco. O capote, muito amplo e atirado com elegância sobre a cabeça, tornava-as impenetráveis. (...)

in: Raul Brandão, Os Pescadores 

abril 19, 2015

Todo o Algarve é um pomar

(...)
Todo o Algarve é um pomar cultivado com esmero. A gente do Alentejo, quando vê um bocado de terra bem tratada, diz: – É um pedacinho do Algarve. – Mas não se lembra que o Algarve está retalhado, pulverizado, três pés de oliveira, dois pés de amendoeira, e as almas rancorosas divididas como a terra. (...)

in: Raul Brandão,  Os Pescadores

abril 17, 2015

A fartura é a sardinha

(...) 

Mas a abundância e a riqueza, a fartura, é a sardinha. Foi inesgotável, foi compacta, tanta que noites inteiras e seguidas ninguém em Olhão podia dormir. E dizia-se:
– Houve hoje grande matação de peixe. – Há aqui duas qualidades: a do sueste, que vem em Abril e arranca aos cardumes da costa de Marrocos; e o peixe do sudoeste,
maior, mais gordo e menos saboroso, isto sem contar com a sardinha de passagem, que aparece em Janeiro quando desova. – Já lá anda perdida... – dizem os pescadores. –
Morde-lhe a ova.
(...)


in: Raul Brandão, Os Pescadores

abril 13, 2015

Esta zona do Barrocal... descubra qual!




Existem nesta paisagem marcos que testemunham a exploração dos recursos naturais, que por sua vez se irão repercutir, diretamente, no modo de vida das pessoas que aí vivem e viveram.
Esta zona do Barrocal algarvio é uma zona fértil, como o comprovam os campos agrícolas aí existentes e tem abundância de água (Ribeira de Quarteira e a Fonte de Paderne). A água é um elemento preponderante para a fixação de população, sobretudo em épocas mais antigas, daí que se considere um elemento incontornável na construção desta  paisagem, a começar pela presença de arquiteturas de produção a ela associadas como as azenhas; as noras, ou outros sistemas de captação de água destinados à rega das  produções agrícolas de regadio, inovações introduzidas neste território, precisamente  pelos muçulmanos. 


Patrícia Santos Batista, “Educação Patrimonial em Paderne: ambiente e cultura”,

Comunicação apresentada no: I Congreso Internacional de Patrimonio y Educación, 22, 23 y 24 de mayo de 2014. Facultad de Ciencias de la Educación. Universidad de Granada(Educação patrimonial em Paderne)


abril 11, 2015

A vila de Monchique



Monchique
A vila é sede de concelho desde 1773, tendo-se tornado independente de Silves, concelho ao qual pertenceu desde a Reconquista, no entanto diz-se que aquando da primeira visita ao Algarve do rei D. Sebastião, em 1573, o monarca “ veio a Monchique, e a achou tão interessante pelas suas belezas naturais e mesmo já pela sua população e isolamento, que determinou elevá-la a vila, o que não fez por oposição das vilas vizinhas[1]. É o centro administrativo, local onde se encontram os serviços. Aqui situam-se os Paços do Concelho e o Tribunal, bem como equipamentos religiosos e assistenciais, dos quais se destacam a Igreja Matriz do de Nossa Senhora da Conceição, Imóvel de Interesse Público[2], construção atribuída ao século XV, provavelmente no local de uma primitiva mesquita[3]. Do ponto de vista arquitectónico destaca-se o portal manuelino, com motivos vegetalistas e os capitéis.


[1] In: José António Guerreiro GASCON – Subsídios para a Monografia de Monchique, Algarve em Foco Editora, Faro, s/d, p. 145.
[2] Dec. nº 67/97, DR 301 de 31 Dezembro 1997.