dezembro 29, 2012


"Boas tardes (noites) meus senhores,
Boas Festas vimos dar;
Nós trazemos o Menino,
Ai! P'ra quem O quiser bêjar."

(Quadra popular algarvia)

dezembro 26, 2012

Pai Natal

"O "pai natal" não nasceu de um dia para o outro. Ao longo de muitos anos, os precursores abriram o caminho para ele "nascer", no século XIX e ser apresentado em público pela "Coca-Cola", no século XX"


in: P.e José da Cunha Duarte, CSSp - Natal no Algarve. Raízes medievais, Ed. Colibri, 2002, pp.
143

dezembro 25, 2012

ainda sobre as prendas


"... Só na década de quarenta [séc. XX] começaram a aparecer os sapatinhos na chaminé. Uma laranja, guloseimas, ou uma boneca de tabuleiro (boneca de trapos com braços e pernas em cana), eram as únicas prendas que se metiam no sapatinho das crianças.
(...)
Na zona marítima, colocava-se no sapatinho das crianças uma laranja, castanhas, bolotas aveladas ou rebuçads. Quando se portavam mal, enchia-se o sapato com cascas de bergão (berbigão).
(...)
As prendas eram dadas, ora no dia de Natal, ora no dia de Reis. Não havia uniformidade. Mas o Menino Jesus era o centro da festa. Era Ele que oferecia as prendas às crianças..."

in: P.e José da Cunha Duarte, CSSp - Natal no Algarve. Raízes medievais, Ed. Colibri, 2002, p.142

dezembro 24, 2012

Prendas


"No início do ano civil, os povos da antiguidade davam prendas entre si, para terem sorte e abundância de bens durante o ano novo. (...) Quando o Natal coincidiu com o início do ano civil,também os cristãos davam prendas uns aos outros.
(...)
O dia de Natal ou de Epifania são os dias eleitos para as ofertas das prendas.
(...)
[No Algarve] Nas primeiras décadas do século XX, não se falava em prendas pelo Natal..."

in: P.e José da Cunha Duarte, CSSp - Natal no Algarve. Raízes medievais, Ed. Colibri, 2002, pp. 141 e142

dezembro 22, 2012

Morgado de Amêndoas

Receita do Morgado de Amêndoas

Ingredientes:
•250 grs de amêndoas •250 grs de açúcar


•½ chávena (chá) de doce de chila

•1 chávena de fios de ovos (bem cheia)

•1 chávena de ovos moles espessos

•125 grs de açúcar em pó

•massa de amêndoa p/ enfeitar

•pérolas prateadas

•farinha



Confecção:
Pelam-se as amêndoas, escaldando-as com água a ferver; enxugam-se com um pano e deixa-se secar ao sol ou em forno quente com a porta aberta. Depois de secas, passam-se várias vezes pela máquina de ralar, de modo a ficarem muito finas.

Leva-se o açúcar ao lume com 1,5 dl de água e deixa-se ferver até se obter ponto de pasta (quando a calda começar a aderir à colher sem correr da mesma). Adiciona-se a amêndoa ralada e deixa-se cozer em lume muito brando, mexendo sempre, até se ver o fundo do tacho ao passar a colher.

Retira-se o preparado do lume e deita-se sobre a bancada previamente polvilhada com farinha ou untada com óleo de amêndoas doces. Deixa-se a massa de amêndoas arrefecer um pouco e, logo que seja possível mexer-lhe, amassa-se (será mais fácil fazer este trabalho, dividindo a massa em 3 partes e amassando uma de cada vez). Quando pronta, a massa deve ser muito fina. Por norma, deixa-se repousar até ao dia seguinte.

Volta a trabalhar-se a massa e retiram-se 2/3 de porção. Polvilha-se uma superfície á parte com farinha e estende-se a massa em círculo. Começa-se então a puxar os lados para cima, dando-lhe a forma de uma tigela com os bordos baixos (3 dedos de altura). No Algarve diz-se que se fez a «alcofa». A massa do fundo deve ficar bastante mais espessa do que a massa que forma os lados. O esticar e moldar da massa pode ser ajudado com um pouco de farinha, devendo as mãos serem lavadas e enxutas várias vezes.

Feita a «alcofa», coloca-se dentro uma camada de doce de chila bem espalhada. Sobre esta dispõem-se os fios de ovos e, finalmente, os ovos moles. A «alcofa» deve ficar bem cheia. Com a massa que resta molda-se um círculo que servirá de tampa, devendo ter aproximadamente a espessura do fundo e o diâmetro da «alcofa».

Viram-se os bordos das paredes do morgado sobre os ovos moles e fecha-se o bolo com o círculo de massa. Com uma faca molhada alisa-se a massa da tampa na parte do junção, de modo a disfarçá-la. O morgado tem agora a configuração de um queijo da serra. Deixa-se em repouso cerca de 2 horas.

Contorna-se o morgado com uma tira de pano de 3 dedos de largura e ata-se para impedir que abra ao cozer. Pincela-se com clara de ovo. Leva-se o bolo a forno esperto até adquirir uma cor ligeiramente dourada. A superfície ganha geralmente algumas bolhas. Retira-se do forno e deixa-se arrefecer.

Bate-se o açúcar em pó com um pouco de água ou de clara de ovo, até se obter um preparado espesso que se aplica com o pincel na parte superior e nos lados do morgado. Deixa-se secar, mas não completamente.

Enfeita-se, por fim, com flores ou outros motivos feitos com massa de amêndoa, pérolas prateadas, e contorna-se com uma franja tripla de papel de seda, de papel cristal e de papel celofane.



Doces

Os doces associados a esta quadra são muitos e com várias adaptações, no entanto destacam-se as filhós, como um doce intimamente ligado as duas festas: o Natal e o Carnaval.

Mais sugestões e receitas de doces de natal?!

dezembro 21, 2012

Ceia de Natal


A ceia de natal tem algumas diferenças segundo as zonas do país. No Norte, geralmente, na noite de natal, come-se polvo ou bacalhau; no Algarve por sua vez, a ementa pode comtemplar: bacalhau, borrego, amêijoas, carne de porco, perú, marisco, papas de milho, podendo ocorrer algumas especificidades de determinadas localidades, como é o caso de Olhão, local onde a tradição dita que na noite de natal se coma litão (o nome mais usual em Portugal é leitão mas em Olhão denomia-se de litão. Em inglês é blackmouth catshark, em francês chien espagnol, e em espanhol, pintarroja bocanegra).




dezembro 15, 2012

Origem doçaria regional algarvia



Nos costumes muçulmanos entronca, sem dúvida, a doçaria regional algarvia que tem como base o maçapão, massa (lawzinadj) feita de amêndoas moídas e açúcar e os doces que têm como base fundamental: amêndoas, nozes, pistácios, tâmaras, açúcar, mel e canela, as filhós, exemplo da herança árabe a nível culinário, ainda fazem parte da doçaria portuguesa, perpetuando desde modo as nossas raízes muçulmanas!

novembro 20, 2012


A casa tradicional no Algarve central, caracteriza-se, grosso modo, por apresentar uma cobertura mista – telhado e açoteia utilizável para secagem dos frutos, por exemplo, e com vãos guarnecidos a cantaria.

Ao longo do último quartel do século XIX, e nas primeiras décadas da centúria seguinte, verificou-se uma transformação construtiva, sendo que um dos elementos mais marcantes foi o aparecimento de platibanda*, na cimalha dos edifícios.

*Platibanda – murete ou balautrada de alvenaria, ao longo da fachada, com cerca de um metro de altura, escondendo para o exterior o remate inferior do telhado (e o seu beiral). Embora a platibanda, rapidamente adquira um valor ornamental, a sua função é permitir o escoamento indirecto das águs pluviais, por meio da caleira horizontal de recolha, ao longo do beiral por detrás do murete, passando depois aos tubos de queda, evitando assim que as águas da chuva caiam directamente na rua.
A platibanda enquanto forma arquitectónica-decorativa, insere-se na tradição de gosto pelo detalhe ornamental e pela profusão decorativa da arquitectura algarvia. Em contexto rural este elemento apresenta-se mais simples, por vezes sem qualquer decoração.
P.S.B.


novembro 15, 2012

Classificação Rîbat da Arrifana, Aljezur




Anúncio n.º 13699/2012. DR 221 SÉRIE II de 2012-11-15
Presidência do Conselho de Ministros - Direção-Geral do Património Cultural

Projeto de decisão relativo à classificação como monumento nacional (MN) do Ribat da Arrifana, freguesia e concelho de Aljezur, distrito de Faro



novembro 05, 2012

SOLSTÍCIO DE INVERNO - simbologia do Inverno

Solstício de Inverno

O Inverno simboliza a morte. O Cultos do Mortos, que nas sociedades hedonistas Ocidentais é mantido quase ignorado, tinha no passado um sentido completamente diferente.
Embora simbolicamente o Inverno, compreenda a morte, está sempre ligado à vida.


Cria-se que os mortos continuavam um outro tipo de vida, de onde protegiam os seus. Era entendido que habitavam um departamento (o subsolo) onde se passava o mistério da transformação das sementes em plantas e frutos (morte e ressurreição). A eles era pedida a proteção das sementes, bem precioso para a sobrevivência das populações agrárias.


Durante o mês de Novembro, há várias celebrações reflectem esta ambiguidade. A de S. Martinho, que tem lugar a 11, por exemplo, na qual os manjares rituais alternam com as bebedeiras e as brincadeiras de uma obscenidade gratuita, socialmente inaceitável fora deste contexto (mas fazendo parte do mesmo sistema de sentidos). Ritos semelhantes, onde se percebe um conceito diferente da morte, prolongam-se por Dezembro, culminando com a chegada do Solstício de Inverno e a celebração do renascimento do Menino Sol a 22 que os mortos são chamados a participar.

outubro 30, 2012

Magusto

Magusto é uma merenda festiva de castanhas.

A 1 de Novembro, na serra de Monchique realizam-se os tradicionais  “Magustos dos Santos” , associado à celebração do dia de "Todos os Santos" (ainda hoje esta tradição se mantém neste concelho, promovido pelas respectivas Juntas de Freguesia de Alferce e Marmelete), embora o mais difundido seja o de dia 11 desse mesmo mês, o designado “Magusto de S. Martinho”.

O magusto não é uma tradição exclusiva de Monchique, no entanto aqui apresenta algumas especificidades, em vez de maçãs e vinho, que em algumas zonas do país se juntam às castanhas,  aqui  na serra algarvia de Monchique, também se comem batatas, assadas numa cova cavada no solo e recoberta seguidamente com terra, sobre a qual se acende uma fogueira (não sei se esta tradição ainda se mantém).

Os magustos aparecem em Monchique, nas Caldas e em Barranco de Pisões, com os complementos obrigatórios da aguardente de medronho!

outubro 17, 2012

As elites locais republicanas



De entre as elites locais ligadas ao PRP destaca-se Manuel Teixeira Gomes, natural de Portimão, que viria a ser presidente da República, de 6 de Outubro de 1923 a 11 de Dezembro de 1925.

Tomás Cabreira, brilhante professor, político e militar, de Tavira. Ocupou o cargo de ministro das Finanças de Fevereiro a Junho de 1914.

O louletano, Mendes Cabeçadas, participou na preparação e desencadeamento da insurreição de 5 de outubro de 1910, que instaurou o regime republicano. Distinguiu-se particularmente, não só pelo grande fervor e impaciência nos momentos críticos em que o movimento parecia comprometido, como pela iniciativa corajosa ao assumir o comando do navio "Adamastor", colocando-o ao serviço da revolução. No ano seguinte, foi deputado às Constituintes, juntamente com outros jovens militares revolucionários. No entanto, viria a revoltar-se contra o regime que ajudara a implantar, por razões nem sempre muito claras, algumas aparentemente de carácter aventureiro e pessoal. Em 1926 participou nas manobras e conspirações políticas e militares que levaram à instauração da Ditadura Militar. Nos primeiros dias deste novo regime, assumiu poderes ditatoriais, num governo em que se responsabilizou por todas as pastas, mas foi prontamente afastado do poder pelos seus próprios correligionários liderados por Gomes da Costa, no que seria o primeiro choque significativo no seio do grupo político-militar vencedor.

outubro 05, 2012

A propósito do 5 de Outubro (de 1910)

A implantação da República a 5 de Outubro de 1910 é muitas vezes associada a um movimento restrito à capital, tendo sido «proclamada por telégrafo» ao resto do país. Contudo a realidade é bem mais complexa, no Algarve, por exemplo, existia uma comissão distrital em Faro e comissões municipais na maioria dos concelhos, à excepção de alguns concelhos, tipicamente menos desenvolvidos do ponto de vista demográfico, económico, cultural e político, como Castro Marim, Vila Real de Santo António, Aljezur, Vila do Bispo e Monchique.


A acção do Partido Republicano Português (PRP) não se esgotava nas comissões políticas, envolvia, igualmente associações, centros e escolas. Na região algarvia, antes do 5 de Outubro de 1910, existiam apenas 2 centros republicanos, mas as grandes figuras do partido deslocavam-se aqui com alguma regularidade.

setembro 05, 2012

Ciclo do Medronho

O ciclo inicia-se com a apanha do fruto, entre os meses de Setembro e Dezembro, realizada pelo produtor e família, ao que se segue um período de fermentação e a posterior destilação em local próprio. Por fim, a aguardente pode ser logo vendida ou submeter-se a envelhecimento. A fruta é fermentada em tanques de madeira ou barro. A fermentação é natural e dura entre trinta a sessenta dias. Os tanques devem ser cobertos com frutos esmagados para evitar o contacto com o ar. Depois de fermentado o produto deve ser guardado durante sessenta dias e bem protegido do ar. Uma boa aguardente de medronho é transparente, com o cheiro e o gosto da fruta.


agosto 23, 2012

Reacções ao bikini!

As reacções à ousada invenção não se fizeram esperar, e se por um lado os mais conservadores consideraram o biquini algo escandaloso, impróprio e despudorado, também teve apoiantes, que rapidamente aderiram à nova moda, sobretudo influenciados pelos famosos que eram vistos em biquini, a começar pelo primeiro modelo de biquini, que foi usado pela bailarina Micheline Bernardini:

agosto 19, 2012

A invenção do biquini

O biquini foi criado e lançado no ano de 1946, quase simultaneamente, por dois estilistas franceses: Jacques Heim e Louis Reard. Heim criou um fato-de-banho para vender na sua loja em Cannes, e chamou-lhe “Atome”, nome dado devido ao seu reduzido tamanho, comparando-o ao átomo, a menor partícula de matéria conhecida.
No mesmo verão, Louis Reard cria um traje de banho, composto por duas peças, a que denomina de “biquini”, o nome do Atol de Bikini, no Pacífico Sul, onde os Estados Unidos da América detonaram bombas atómicas e título experimental, o que gerou muito polémica, uma vez que a Segunda Guerra Mundial tinha apenas terminado.
O objectivo do seu criador, era que o biquini tivesse o mesmo efeito na sociedade conservadora que as bombas, ou seja chocar!

agosto 13, 2012

“Ambre Solaire”

O bronzeado tornar-se-á moda já nos finais dos anos 30 do século passado, uma vez mais, em França, com o lançamento de uma campanha publicitária da “Ambre Solaire”, que apela à exposição solar. De repente voltar de férias bronzeado, torna-se num verdadeiro imperativo social, imposto pela publicidade e corroborado pelo cinema e televisão, sintomas do desenvolvimento da sociedade de consumo.


 

agosto 07, 2012

Fatos-de-banho



A indumentária e os comportamentos ligados à prática balnear sofreram profundas alterações, sobretudo no período entre as duas Grandes Guerras.

Nos finais do século XIX, inícios da centúria seguinte, os então apelidados fatos-de-banho eram peças de vestuário que cobriam o corpo todo, do pescoço aos pés, e que, após o banho de mar, era mudado. A exposição ao sol era algo a evitar, os banhistas faziam-se sempre acompanhar de chapéus e sombrinhas. À época o bronzeado estava associado aos trabalhadores rurais que trabalhavam de sol a sol, e por isso mesmo apresentavam uma tez morena.
P.S.B.

agosto 03, 2012

Recolha oral (2)

(cont.)

Fui almoçar a Tavira/ Depois vima para a Fuzeta



Eu já não trazia cheta/ Fui a Santa Catarina


Fui a Olhão de seguida/ onde eu vi as mulheres nuas


Elas eram más que duas/ Eram uma casa cheia delas


Seguiram-me nas canelas/ Corri travessas e ruas




Fui a Quarteira tomar um banho


Por ser uma praia asseada/ Boliqueime não vale nada


Paderne uma aldeia porreira/ Estive na vila de Albufeira


Passi ao povo da Guia/ Fiz toda esta travessia


Sem um centavo na algibeira.”

julho 28, 2012

Recolha Oral

Fui dar a S. Barnabé/ Corri travessas e ruas



Sem um centavo na algibeira/ Sempre no comboio das duas.


Saí de Vila Real/ Passi a Castro Marim


Dei a volta por Alcoutim/ E em Cachopo dei-me mal.



Estive no Ameixial/ Lá tomi um bom café


Dei um passo pra Loulé/ Deixei da andar pra fugir


Tive em Querença e em Salir/ Fui dar a S. Barnabé. (cont.)

julho 02, 2012

Criação do Real Instituto de Socorros a Náufragos

Algumas datas (históricas) curiosas:

1892 – Criação do Real Instituto de Socorros a Náufragos, sob o alto patrocínio da Rainha D. Amélia



1909 – 1.º registo de apoio a banhistas, referido no Relatório da Comissão Central do ISN, onde se propõe a criação de um sistema de vigilância com uma embarcação que percorria a praia durante os banhos, sendo que os primeiros sistemas deste tipo foram implementados nas praias de Trafaria e de Albufeira

junho 26, 2012

Verão de 1934

"Deliberou a Comissão de Iniciativa e Turismo colocar na praia as barracas e toldos para a serventia dos banhistas, cobradas com as seguintes importâncias:

- por cada banho:

- adultos de idade superior a 15 anos inclusive – 50 centavos

- até aos 14 anos, sendo filho – 50 centavo, de 2 a 4 filhos – 1 escudo, superior a 4 filhos 1 escudo e 50 centavos
- pelo aluguer de cada barraca incluindo banhos, por cada mês – 35 escudos;

- por cada toldo durante um mês – 15 escudos

- por cada fato - 50 centavos

- por cada toalha – 1 escudo, sendo este aluguer por cada banho."

In: Acta n.º 29, de 1 de Agosto de 1934, Comissão de Iniciativa e Turismo de Albufeira.

junho 24, 2012

Verão em Quarteira


Inês Farrajota, empresária natural de Loulé recorda que no verão, à semelhança de grande parte das famílias louletanas, «mudavam-se de armas e bagagens para Quarteira. Lembra-se bem das mulheres que apareciam com grandes panelas para vender batata-doce, de manhã cedo na praia. Era um costume que, acredita Inês Farrajota, já vinha dos anos 20 e 30, quando os algarvios se levantavam muito cedo e iam dar um mergulho à praia logo de madrugada, para depois voltarem rapidamente para casa, ‘porque tinham medo que o sol fizesse mal’. A batata-doce, acompanhada de aguardente, era para ajudara a aquecer o corpo depois do mergulho matutino. 
À noite em Quarteira animava-se uma pequena vida social, que incluía, até, uma esplanada com orquestra a tocar, onde se ficava a jogar às cartas, a organizar concurso, a eleger misses. ‘Havia bailaricos, e vinham pessoas das redondezas. Aparecia a Simone de Oliveira e muitos fadistas.’ A animação era regulada pela central eléctrica, que à uma da manhã emitia três sinais para avisar que a luz ia ser desligada e que era hora de recolher.

A época de banhos prolongava-se por Outubro e até Novembro, altura em que chegavam os chamados “banhistas de alforge”, que só podiam ir a banhos depois de terminarem os trabalhos nas colheitas.»

in:COELHO, Alexandra Prado, 2009, Revista Pública de 05.07.09, «Para além do Caldeirão havia um Paraíso», (p. 16 a 21).

junho 14, 2012

Os banhos de mar no final do séc. XIX

Os banhos terminavam por volta das 9h00, e os banhistas eram mergulhados no mar com a ajuda do banheiro.



Às 10 horas era o almoço, e às 4 da tarde era servido o jantar. Entre estas duas refeições os banhistas entregavam-se ao “dolce farniente” da vida social local, como tão bem ilustra Eça de Queiroz:”… Logo pela manhã estava a pé! Era hora do banho: as barracas de lona alinhavam-se ao comprido na praia; as senhoras sentadas em cadeirinhas de pau, de sombrinhas abertas, olhavam o mar, palrando (…) Ela saía então da barraca com o seu vestido de flanela azul, a toalha no braço (…) Depois, de tarde, eram os passeios à beira-mar, a apanhar conchinhas…”

in: Eça de Queiroz -  O Crime do Padre Amaro, Edição Livros do Brasil, Lisboa, 2000, pp. 82 e 83.



junho 12, 2012

Bronzeado

A indumentária e os comportamentos ligados à prática balnear sofreram profundas alterações, sobretudo no período entre as duas Grandes Guerras.



Nos finais do século XIX, inícios da centúria seguinte, os então apelidados fatos-de-banho eram peças de vestuário que cobriam o corpo todo e que, após o banho de mar, eram mudados. A exposição ao sol era algo a evitar, os banhistas faziam-se acompanhar sempre de chapéus e sombrinhas. À época o bronzeado estava associado aos trabalhadores rurais, que trabalhavam de sol a sol, e por isso mesmo apresentavam uma tez morena.


O bronzeado tornar-se-á moda já nos finais dos anos 30 do século passado, em França, com o lançamento de uma campanha publicitária da “Ambre Solaire”, que apela à exposição solar. Voltar de férias bronzeado, torna-se num verdadeiro imperativo social, imposto pela publicidade e corroborado pelo cinema e televisão, sintomas do desenvolvimento da sociedade de consumo.


junho 08, 2012

A propósito da origem da Festa Corpo de Deus

A Festa do Corpus Christi ou Corpo de Deus foi criada em 1264.



Esta e a procissão do Corpus Chisti era a mais importante e aqui estavam representadas duas facetas distintas, a religiosa e a profana.


A parte religiosa, sobre a qual superintendia a Igreja, consistia fundamentalmente no desfile das pessoas e autoridades religiosas – incentivo à devoção pública.


A parte profana, sobre a qual superentendia a Câmara, por intermédio das corporações e mesteres.


Desde a Idade Média que na procissão do Corpo de Deus os ofícios ocupam a parte da frente, organizando-se a procissão do mais humilde para os mais ricos, visto que o espaço nobilitante, junto da gaiola do Santíssimo ou do andor de santo, destinava-se aos clérigos e aos cidadãos (posteriormente designados por “gente nobre da governança”).


junho 03, 2012

Praia de Santa Eulália


"Envolta por um pinhal e com arribas baixas de tom ocre, estas são duas marcas que fazem de St.ª Eulália uma praia semi-mágica, onde é possível encontrar a tranquilidade, que o som do mar calmo nos transmite, bem como encontrar pequenos recantos, compostos pelas formações rochosas.
Toda a sua magia ganha outros contornos quando à excepcional obra da natureza, se junta de forma ancestral a acção do Homem, com toda a sua vivência e memórias.
Reza a história, que no século XVI na sua envolvente, se erigia uma pequena Ermida, cujo orago era dedicado a St.ª Eulália.
As artes piscatórias, por ora relegadas para segundo plano, constituíram importante actividade nesta praia, atestando, deste modo, a forte ligação destas gentes, ao mar.
Na zona central da praia encontra-se uma linha de palmeiras altas, que ladeiam um passeio pedonal, que nos conduz a uma agradável esplanada, com vista para o oceano, proporcionando o desfrute estético e sinestésico de todo este património!"



maio 22, 2012

Praia da Rocha

"Detenho-me um instante na cenográfica praia da Rocha, extasiado nos dois grandes penedos destacados e num fio de areia doirada ao pé da água azul – tudo pintado por Manini agora mesmo. A um lado a ponta do Altar entra decidida pelas águas; do outro, o esfumado Lagos mal se entrevê ao longe... Duas impressões se fixam no meu espírito para sempre: a noite extraordinária, a luz maravilhosa. A luz sustenta. Basta esta luz para se ser feliz. É ela que encanta o Algarve. É ela que produz os figos orjais, os coitos, os bracejotes, todos eles amarelos, a estalar de sumo, e destilando um líquido perfumado, e o figo preto de enxaire que se mete na boca e sabe a mel e a luz perfeita. É ela a criadora destas agonias doiradas que vão esmorecendo e passando por todos os tons até morrer a muito custo. E as noites mágicas e caladas, as noites sem lua, muito mais claras que as noites do norte, em que se distingue a brancura voluptuosa das casas e se vêem as estrelas enormes reluzindo através das amendoeiras."

in: Raul Brandão - Os Pescadores, p. 82

maio 18, 2012

Atravesso Portimão

"Atravesso Portimão de olhos postos no castelo de Arade, onde o velho poeta sonha com O Fausto, e talvez como ele em recomeçar a vida. A luz é cada vez mais viva. Um homem com dois cabazes apregoa na rua: é um tipo seco e tisnado de mouro, de camisola azul e perna nua. Passa uma carrinha guizalhando, e logo atrás outro burro com bilhas de água fresca. É extraordinário o que este pobre jerico inocente e peludo, de olhos límpidos, trabalha no Algarve. É ele que leva a fruta ao mercado e tira a água das noras. Lavra as terras calcinadas, transporta pelas estradas solheirentas, adornado com cordões vermelhos, quase uma família a dorso. Vai às Caídas buscar as grandes bilhas vermelhas que transpiram, mata a sede da gente e a sede da terra – e não sei se embala os berços... Produz muito e contenta-se com pouco."

in: Raul Brandão - Os Pescadores, p. 82

maio 14, 2012

"A mesa de Deus está posta"


Pela portinhola do comboio vou seguindo a paisagem de figueiras e de vinhas que desfila. De um lado o céu doirado e violeta, do outro todo roxo. Os nomes das estações têm um sabor a fruto maduro e exótico – Almancil-Nexe, Diogal, Marchil... De quando em quando fixo um pormenor: uma mulher passa na estrada branca, entre oliveiras pulverulentas e fantasmas esbranquiçados de árvores, sentada no burrico, de guarda-sol aberto, e dando de mamar ao filho. Terras de barro vermelho. Grupos de figueiras anainhas estendem os braços pelo chão até ao mar, deixando cair na água os ramos vergados de fruto, que só amadurece com as branduras. Uma ou outra casinha reluzindo de caiada: ao lado, e sempre, a nora de alcatruzes e um burrinho a movê-la entre as leves amendoeiras em fila, as oliveiras dum verde mais escuro e a alfarrobeira carregada de vagens negras pendentes. A mesa de Deus está posta. Estradas orladas de cactos imóveis como bronze, e a deslumbrante Fuzeta, com o seu zimbório entre árvores esguias. Ao longe, e sempre, acompanha-me o mar, que mistura o seu hálito a esta luz vivíssima.

Raul Brandão - Os Pescadores, p. 82


maio 07, 2012

Falar algarvio

Vá ver!: vamos lá com isso!; deixe-se disso!; despacha-te!, etc.

Vaia (dar de...): saudar quando se passa junto ou perto da casa de alguém ou nas proximidades de alguém.



in: Dicionário do falar Algarvio - Eduardo Brazão Gonçalves, Algarve em Foco Editora,1996.

A província

"... para os «montanheiros» da província o Algarve é apenas constituído pelo litoral e barrocal; eles vão lá baixo ao Algarve, quando descem da montanha para colocar os seus produtos, vender o carvão e o castanho que lhes dão as suas matas ou a aguardente dos seus medronhos, ou comprar peixe, o figo e a amêndoa que a serra não produz."

in: Guia de Portugal - Estremadura, Alentejo, Algarve, p. 189.

maio 04, 2012

Esteva


Esteva – Cistus ladanifer

Muito abundante Alentejo e Algarve. Usada para fins medicinais (resina). Actualmente usada na perfumaria como fixador de perfumes.

Perto de Alferce

Esteva