novembro 22, 2016

Albufeira (Guia Turístico de 1940)

"Edificada em anfiteatro e cortada quási a pique sôbre o mar, que, no entanto, se afasta para deixar-lhe uma praia de lindo recorte. É êste o principal atractivo da terra, o que não quer dizer que Albufeira não seja também recomendável pelo curioso aspecto que apresenta em panorama com o irregular casario de imaculada brancura, e os seus verdejantes arredores em que a pitoresca Várzea da Orada ocupa um lugar primacial e pela riqueza hortícola da região que a circunda."


outubro 19, 2016

Algarve [Guia 1940]

"... O Algarve, dotado de uma luminosidade que por vezes entontece e de um céu de azul brilhante que só encontra rival no do mar em que se refléte, merece ser devidamente assinalado ao turista que nêle muito encontrará digno de despertar-lhe o interêsse."



in: Guia Turistico do Algarve, Edição da Revista Internacional, 1.ª ed. 1940

setembro 29, 2016

Guia turistico do Algarve, 1940

"Turista: tens neste Guia, 
um belo documentário
Da Arte, Vida e Poesia
Do meu Algarve Lendário"

                                     Marques da Silva

in: Guia Turistico do Algarve, Edição da Revista Internacional, 1.ª ed. 1940

agosto 23, 2016

Algarve, levo-te na retina...

Levo-te emoldurada na retina,
Terra que Portugal sonhou e sonha ainda,
Que imagina depois de conhecer.
Só na retina poderei reter
Um mar que é outro mar,
Um sol que é outro sol,
Gente que é outra gente,
E casas que parecem de repente
Albornozes de pedra.
Magias naturais como a paisagem
Aberta à luz do dia,
Sempre real e sempre uma miragem
Táctil e fugidia...


Miguel Torga




agosto 06, 2016

maio 27, 2016

Da Fuzeta à serra com volta a Alfandangas Breve passeio pela rua principal


Vindo de Alfandangas, ao entrar na Fuzeta pela rua principal, encontramos, à esquerda, um cinema com o nome, em grandes letras, pintado na parede: Cinema Topázio.

Passos andados, a rua alarga um pouco, formando um rectângulo, estreito, arborizado e com bancos de jardim: é a Praça da República. Num dos bancos, um velho de pele amarelada, seco e curvado, de mão nodosa apoiada a um bordão, cabeça tombada, ausente e de olhos parados como de cego, fita o chão. Perto, e tão distantes, debaixo de uma palmeira, dois rapazinhos jogam ao berlinde.

No outro lado há um café. Está aberto e vazio. Sobre o passeio, sentados em cadeiras com os espaldares, onde apoiam os braços, voltados para a frente, dois homens, de chapéu levantado na nuca e caído nos olhos, falam com outros dois homens, os quais, também de chapéus levantados na nuca e caídos nos olhos, estão de pé, pernas cruzadas, corpo inclinado para a banda, e encostam os cotovelos à capota de um automóvel.

Quando passo, calam-se. E todos os quatro, sem se moverem, vão virando furtivamente os olhos, a tentar descobrir quem sou, de onde venho, que faço. Sigo em frente como se nada tivesse notado. Ao passar, noto aborrecido que, à esquina da Praça da República, o Bar da Tia Anica ainda não abriu.

E lá continuo no jogo do cego que vê tudo. A tarefa obriga. Ver, ouvir e saber eis a base do repórter. Assim, indo a meio caminho, avisto, pela porta de uma casa térrea, quatro ciganos vestidos de preto, caras duras e de chapéu negro, sentados em volta de uma mesa. Atrás deles, de pé, quatro ciganas delgadas e altas, também vestidas de preto, aquietavam-se, de braços cruzados sobre os seios. No silêncio da casa, a mais jovem, de queixo atirado para a frente, chora.

Foi somente o que vi. Nada mais do que isso. Um quadro para ilustrar uma crónica de repórter. Bem diferente, no entanto, da fotografia dos três ingleses de Monte Gordo.

In: Manuel da Fonseca, Crónicas Algarvias

maio 20, 2016

O marítimo de Olhão

"O marítimo de Olhão tem, como nenhum outro, um grande sentimento de igualdade: estende a mão a toda a gente. É que no mar os homens correm os mesmos perigos. São também profundamente religiosos, porque estão a toda a hora na presença de Deus. Duas tábuas, a fragilidade e a incerteza forçam-nos a contar consigo e com a companha. Arriscam a vida para salvar a dos outros: hoje por ti, amanhã por mim. Homens simples porque a profissão é simples e o meio, grande e eterno, não os corrompe. E, como o mar abundante e pródigo não tem cancelas, são generosos, imprevidentes e comunistas. Detestam os tribunais, que não compreendem, e ignoram a vida da terra. Se a mulher lhes morre, não entram em licitações com os filhos: deixem-lhes a eles o barco e as redes e tomem conta do resto. Reparei que em todas as casas havia uma gaiola com um pintassilgo. Os homens do mar tiveram sempre uma grande ternura pelas aves."

in: Raul Brandão, Os Pescadores

maio 07, 2016

Olhão


"De manhã saio em Olhão deslumbrado. Céu azul-cobalto - por baixo, chapadas de cal. Reverberação de sol, e o azul mais azul, o branco mais branco. Cubos, linhas geométricas, luz animal que estremece e vibra como as asas de uma cigarra. Entre os terraços, um zimbório redondo e túmido como um seio aponta o bico para o ar. E ao cair da tarde, sobre este branco imaculado, o poente fixa-se como um grande resplendor. É uma terra levantina que descubro; só lhe faltam os esguios minaretes. Duas cores e cheiro : branco, branco, branco, branco doirado pelo sol, que atingiu a maturidade como um fruto, pinceladas de roxo uniformes para as sombras, e um cheirinho suspeito a cemitério. O fruto que chega a este estado está a dois dedos do apodrecimento, e é talvez por isso que a ideia do sepulcro me não larga nas noites brancas e pálidas em que me julgo perdido num vasto campo funerário..."

in: Raul Brandão, Os Pescadores

abril 10, 2016

Sagres

"Sagres é hoje um ímpeto parado, a seta indicadora dum rumo perdido, real e simbolicamente. Lugar dum sentido histórico perpetuado pela fatalidade da duração natural, fragão áspero onde a vida não se resigna a renunciar, ali está, retesado num gesto inútil e pertinaz, envolto num burel de cardos, cilícios com que a si próprio se macera."

Miguel Torga, Portugal


abril 06, 2016

mudavam-se de armas e bagagens para Quarteira



Inês Farrajota, empresária natural de Loulé recorda que no verão, à semelhança de grande parte das famílias louletanas, «mudavam-se de armas e bagagens para Quarteira.»

Lembra-se bem das mulheres que apareciam com grandes panelas para vender batata-doce, de manhã cedo na praia. Era um costume que, acredita Inês Farrajota, já vinha dos anos 20 e 30, quando os algarvios se levantavam muito cedo e iam dar um mergulho à praia logo de madrugada, para depois voltarem rapidamente para casa, ‘porque tinham medo que o sol fizesse mal’. A batata-doce, acompanhada de aguardente, era para ajudara a aquecer o corpo depois do mergulho matutino.

À noite em Quarteira animava-se uma pequena vida social, que incluía, até, uma esplanada com orquestra a tocar, onde se ficava a jogar às cartas, a organizar concurso, a eleger misses. ‘Havia bailaricos, e vinham pessoas das redondezas. Aparecia a Simone de Oliveira e muitos fadistas.’ A animação era regulada pela central eléctrica, que à uma da manhã emitia três sinais para avisar que a luz ia ser desligada e que era hora de recolher.

abril 01, 2016

A propósito das Crónicas Algarvias e do seu autor

Alguns autores e obras são recorrentes no blog, porque sim, é apenas uma questão de gosto pessoal. Por diversas vezes citamos a obra "Crónicas Algarvias" de Manuel da Fonseca, fruto de um périplo pelo litoral algarvio, de Vila Real de Santo António a Sagres, no Verão de 1968, durante 16 dias e que se materializaram em 16 artigos publicados no jornal "A Capital" de 1 a 16 de Agosto desse ano.

Estes artigos foram então publicados com os "cortes" da censura política da época, no entanto em 1986, o autor republica-os, já sem "cortes", com o título "Crónicas Algarvias" -
Manuel da Fonseca - Crónicas Algarvias - Editorial Caminho, 3ª ed., Lisboa, 2000.

março 12, 2016

MAR



MAR

I

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
 
II

Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia, 1944

fevereiro 25, 2016

Acendiam-se vastos espelhos de mar...


"De vez em quando. [...] acendiam-se vastos espelhos de mar, onde a luz se quebrava ao sabor da aragem, em mil facetas ardentes, até que, empecendo-lhes de todo o brilho, as dumas principiavam a ondular, miseravelmente... // Do lado da terra, pouco a pouco, as serras altas foram-se coando pelo azul do céu; as colunas nivelaram-se; por fim as árvores faltaram: a estrada rastejou, em lanços monótonos, na campina lavrada, com um risco de giz na ardósia limpa. Alargou-se o terreno em planície arenosa, malhada com azebre dos hortejos definhados, onde o hálito do mar se sentia arrefecer, e à vista de Ayamonte um leve aperto no coração dizia-me que já a saudade da paisagem familiar e amada começava ali...” 
Manuel Teixeira-Gomes

fevereiro 11, 2016

Tão embelezadora paisagem algarvia se idealizava...


“ Que lindíssima terra esta, [...], e o que temos nós a invejar à Sicília do Teócritico e mesmo ao panorama voluptuoso da Baía das Baías? E assim que era, naquele momento, a minha de ordinário tão embelezadora paisagem algarvia se idealizava, graças à magnificência do poente. [...] // A esfriou perto de Silves com o despontar da Lua, cuja luz desmaiada, curta, reintegrava os torreões da cidade na sua lendária arrogância. Tudo rescendia à flor das amendoeiras que branquejavam, juntas, no fundo dos vales, como um luar mais denso...e desse perfume se repassava o primeiro sono da minha viagem... [...] // Eu ia correndo o litoral algarvio, que é um ininterrumpido jardim, muito povoado de gente e de arvoredo; as amendoeiras, agora, na realidade do Sol, atraiam de novo as minhas imagens, que nelas pousavam de envolta com as abelhas. [...] //.."
Manuel Teixeira-Gomes