março 30, 2012

O Algarve, por Miguel Torga

"O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria.

Dentro dele nunca me considero obrigado a nenhum civismo, a nenhuma congeminação telúrica nem humana.
Debruço-me a uma varanda de Alportel e apetece-me tudo menos ser responsável e ético.

As coisas de Trás-os-Montes tocam-me muito no cerne para eu poder esquecer a solidariedade que devo a quem sofre e a quem sua.
E isto repete-se com maior ou menor força no resto de Portugal.
Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros.
Sinto-me livre, aliviado e contente, eu que sou a tristeza em pessoa!
A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-me da fuligem que se me agarrou aos ossos e clarificam as courelas encardidas que trago no coração.
No fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria.
Também me não vejo fora dela.
Julgo-me numa espécie de limbo da imaginação, onde tudo é fácil, belo e primaveril."

in: Portugal, O Algarve - Miguel Torga





março 27, 2012

Sobre o Algarve

"Esta província [Algarve]é muito bem cultivada; mas este cultivo estende-se geralmente até duas léguas para o interior, pois logo a seguir há colinas desérticas. (…)

O povo vive principalmente de peixe, e é muito pobre. Os habitantes são geralmente menos refinados e menos educados do que os restantes portugueses, mas por todo o país são elogiados e conhecidos pela sua astúcia e perspicácia (…).
(…) Em nenhum lado as estradas são tão más, nem os aposentos nas estalagens tão sujos."
in: Link, 1.ª 1/2 séc. XIX

março 22, 2012

Pêra

Pêra, uma vila branca, fica emoldurada pelo verde das figueiras, na encosta de um monte na foz do rio Algoz. À sua frente encontra-se uma aldeia branca, Armação. Enquanto ancorámos a uma boa distância daí, foram instalados toldos na areia amarela da praia.

in: Otto Riess





março 20, 2012

Éden de vegetação...

“As caldas de Monchique são um éden de vegetação e de frescura em pleno Algarve. Quando o estio calcina a terra, refugiarmo-nos nesta mansão da natureza é viver a vida descuidosa dos abades longe do struggle of life.

O forasteiro queda-se embevecido ao percorrer esse valle umbroso da estrada do ramal à fonte férrea, ou do paraizo aos petits Niágaras dos tanques novos.”
in:Cartas d’um viajor, p. 86

março 16, 2012

Algarve, 1969

A simpatia de que o Algarve goza internacionalmente é em grande parte devida ao meio artístico europeu. A famosa Ingrid Bergman, os Beatles, Cliff Richard, entre muitos de menos nomeada, mas de não menos relações, referem-se lá fora à nossa província como os seus mais entusiásticos propagandistas. Ainda recentemente, ao ser entrevistada em Cannes por um jornalista português, Mylene Demongeot, mal ouviu falar de Portugal, logo anunciou a sua intenção de passar férias no Algarve, na pesca, que os seus amigos que dizem ser «fantástica»… E quando escutou a pergunta: «Mas que amigos?...» Mylene respondeu, com o assentimento do marido, o realizador Mark Simenson, filho do escritor George Simenon, e com o seu mais belo sorriso: «Que amigos! Mas todos! Todo o Mundo fala do Algarve!»

Aproveitando este clima de simpatia à volta da nossa província, não valeria a pena efectuar entre nós, para dar um empurrão a esta espontânea propaganda que fazem da nossa província, nomes famosos do espectáculo, um grande encontro de estrelas à volta de um festival de cinema?

in: Algarve Ilustrado n.º 7, Agosto de 1969




março 14, 2012

Sotavento - turismo

"… no Algarve, sobretudo no Sotavento, não se passava muito em termos de turismo. Havia a Praia da Rocha, que desde muito cedo foi a “rainha do Algarve” – Delgado Martins lembra-se de a mãe lhe contar como, nos anos 30, foi passar a lua-de-mel à Rocha. Mas só nos anos 60 é que a família Uva iria construir o primeiro grande hotel em Monte Gordo, o Vasco da Gama."

in: Revista Pública de 05.07.09 - Alexandra Prado Coelho “Para além do Caldeirão havia um Paraíso” (pp. 16 a 21)

março 12, 2012

Postal das Caldas de Monchique

"Monchique constitui uma das mais notáveis regiões de turismo do país, possuindo também a grande riqueza das suas termas, cujas águas que brotam de 4 nascentes possuem uma acção terapêutica das mais eficazes… Monchique é ainda uma estação de repouso, com todas as são condições naturais… As belezas naturais de Monchique incontestavelmente superiores às de Cintra."
in:O Turismo no Algarve – Como os estrangeiros sabem valorizar as suas riquezas, de Santos Correia, Casa do Algarve, Lisboa, 1931, p. 23.

março 06, 2012

Transportes

"...Com a abertura do aeroporto de Faro ao tráfego, em 1965, outro ramo de transporte de aluguer surgiu, o dos transfers, transferências de grupos, normalmente estrangeiros, para e dos hotéis, por contratos estabelecidos previamente com os tour-operators, grupos esses que chegavam ao Algarve ou daqui regressavam passados os seus períodos de férias."

in: Aníbal C. Guerreiro - História da Camionagem Algarvia (de passageiros): 1925-1975 (da origem à nacionalização), s.l., s.n., 1983.pp. 51-52

março 01, 2012

A chegada do comboio ao Algarve

“O ano de 1889 trouxe, de presente, uma prenda acolhida com natural regozijo. Era a pedrada no charco. No dia 1 de Julho foi inaugurado, festivamente, o prolongamento da via férrea do Sul e Sueste, até Faro. Em breve a rede se foi estendendo até Algoz (Outubro desse ano), a Ferragudo (1903), a Olhão e à Fuseta (1905), à Luz de Tavira e a Tavira (1905), e a Vila Real de Santo António (1906), para fechar com a chegada a Portimão e a Lagos mercê da conclusão da ponte sobre o rio Arade, inaugurada no dia 30 de Julho de 1922.”

in: Aníbal C. Guerreiro -  História da Camionagem Algarvia (de passageiros): 1925-1975 (da origem à nacionalização), s.l., s.n., 1983, p. 19.