Miguel Torga, Portugal
Uma viagem ao(s) Algarve(s)!!! «O viajante não é turista, é viajante. Há grande diferença. Viajar é descobrir, o resto é simples encontrar» (Saramago)
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abril 10, 2016
Sagres
"Sagres é hoje um ímpeto parado, a seta indicadora dum rumo perdido, real e simbolicamente. Lugar dum sentido histórico perpetuado pela fatalidade da duração natural, fragão áspero onde a vida não se resigna a renunciar, ali está, retesado num gesto inútil e pertinaz, envolto num burel de cardos, cilícios com que a si próprio se macera."
abril 01, 2012
"Os guias e os prospectos de turismo bem me empurram: –Que não deixe de ir ver isto, examinar aquilo, verificar aqueloutro. Mandam- me à praia da Rocha tomar banhos oficiais em Janeiro; recomendam-me, em Sagres, o banco de calcário onde o Infante magicava; identificam-me a casa que viu nascer João de Deus; querem que relembre em Alvor a lenta e trágica agonia de D. João segundo, o maior e o mais infeliz rei de Portugal. Vou, mas fico na minha ..."
in: Portugal, O ALgarve - Miguel Torga
março 30, 2012
O Algarve, por Miguel Torga
"O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria.
Dentro dele nunca me considero obrigado a nenhum civismo, a nenhuma congeminação telúrica nem humana.
Debruço-me a uma varanda de Alportel e apetece-me tudo menos ser responsável e ético.
As coisas de Trás-os-Montes tocam-me muito no cerne para eu poder esquecer a solidariedade que devo a quem sofre e a quem sua.
E isto repete-se com maior ou menor força no resto de Portugal.
Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros.
Sinto-me livre, aliviado e contente, eu que sou a tristeza em pessoa!
A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-me da fuligem que se me agarrou aos ossos e clarificam as courelas encardidas que trago no coração.
No fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria.
Também me não vejo fora dela.
Julgo-me numa espécie de limbo da imaginação, onde tudo é fácil, belo e primaveril."
in: Portugal, O Algarve - Miguel Torga
Dentro dele nunca me considero obrigado a nenhum civismo, a nenhuma congeminação telúrica nem humana.
Debruço-me a uma varanda de Alportel e apetece-me tudo menos ser responsável e ético.
As coisas de Trás-os-Montes tocam-me muito no cerne para eu poder esquecer a solidariedade que devo a quem sofre e a quem sua.
E isto repete-se com maior ou menor força no resto de Portugal.
Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros.
Sinto-me livre, aliviado e contente, eu que sou a tristeza em pessoa!
A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-me da fuligem que se me agarrou aos ossos e clarificam as courelas encardidas que trago no coração.
No fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria.
Também me não vejo fora dela.
Julgo-me numa espécie de limbo da imaginação, onde tudo é fácil, belo e primaveril."
in: Portugal, O Algarve - Miguel Torga
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