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janeiro 04, 2017

Para um amigo...


Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.




António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"

outubro 19, 2016

Algarve [Guia 1940]

"... O Algarve, dotado de uma luminosidade que por vezes entontece e de um céu de azul brilhante que só encontra rival no do mar em que se refléte, merece ser devidamente assinalado ao turista que nêle muito encontrará digno de despertar-lhe o interêsse."



in: Guia Turistico do Algarve, Edição da Revista Internacional, 1.ª ed. 1940

setembro 29, 2016

Guia turistico do Algarve, 1940

"Turista: tens neste Guia, 
um belo documentário
Da Arte, Vida e Poesia
Do meu Algarve Lendário"

                                     Marques da Silva

in: Guia Turistico do Algarve, Edição da Revista Internacional, 1.ª ed. 1940

agosto 06, 2016

maio 27, 2016

Da Fuzeta à serra com volta a Alfandangas Breve passeio pela rua principal


Vindo de Alfandangas, ao entrar na Fuzeta pela rua principal, encontramos, à esquerda, um cinema com o nome, em grandes letras, pintado na parede: Cinema Topázio.

Passos andados, a rua alarga um pouco, formando um rectângulo, estreito, arborizado e com bancos de jardim: é a Praça da República. Num dos bancos, um velho de pele amarelada, seco e curvado, de mão nodosa apoiada a um bordão, cabeça tombada, ausente e de olhos parados como de cego, fita o chão. Perto, e tão distantes, debaixo de uma palmeira, dois rapazinhos jogam ao berlinde.

No outro lado há um café. Está aberto e vazio. Sobre o passeio, sentados em cadeiras com os espaldares, onde apoiam os braços, voltados para a frente, dois homens, de chapéu levantado na nuca e caído nos olhos, falam com outros dois homens, os quais, também de chapéus levantados na nuca e caídos nos olhos, estão de pé, pernas cruzadas, corpo inclinado para a banda, e encostam os cotovelos à capota de um automóvel.

Quando passo, calam-se. E todos os quatro, sem se moverem, vão virando furtivamente os olhos, a tentar descobrir quem sou, de onde venho, que faço. Sigo em frente como se nada tivesse notado. Ao passar, noto aborrecido que, à esquina da Praça da República, o Bar da Tia Anica ainda não abriu.

E lá continuo no jogo do cego que vê tudo. A tarefa obriga. Ver, ouvir e saber eis a base do repórter. Assim, indo a meio caminho, avisto, pela porta de uma casa térrea, quatro ciganos vestidos de preto, caras duras e de chapéu negro, sentados em volta de uma mesa. Atrás deles, de pé, quatro ciganas delgadas e altas, também vestidas de preto, aquietavam-se, de braços cruzados sobre os seios. No silêncio da casa, a mais jovem, de queixo atirado para a frente, chora.

Foi somente o que vi. Nada mais do que isso. Um quadro para ilustrar uma crónica de repórter. Bem diferente, no entanto, da fotografia dos três ingleses de Monte Gordo.

In: Manuel da Fonseca, Crónicas Algarvias

maio 20, 2016

O marítimo de Olhão

"O marítimo de Olhão tem, como nenhum outro, um grande sentimento de igualdade: estende a mão a toda a gente. É que no mar os homens correm os mesmos perigos. São também profundamente religiosos, porque estão a toda a hora na presença de Deus. Duas tábuas, a fragilidade e a incerteza forçam-nos a contar consigo e com a companha. Arriscam a vida para salvar a dos outros: hoje por ti, amanhã por mim. Homens simples porque a profissão é simples e o meio, grande e eterno, não os corrompe. E, como o mar abundante e pródigo não tem cancelas, são generosos, imprevidentes e comunistas. Detestam os tribunais, que não compreendem, e ignoram a vida da terra. Se a mulher lhes morre, não entram em licitações com os filhos: deixem-lhes a eles o barco e as redes e tomem conta do resto. Reparei que em todas as casas havia uma gaiola com um pintassilgo. Os homens do mar tiveram sempre uma grande ternura pelas aves."

in: Raul Brandão, Os Pescadores

maio 07, 2016

Olhão


"De manhã saio em Olhão deslumbrado. Céu azul-cobalto - por baixo, chapadas de cal. Reverberação de sol, e o azul mais azul, o branco mais branco. Cubos, linhas geométricas, luz animal que estremece e vibra como as asas de uma cigarra. Entre os terraços, um zimbório redondo e túmido como um seio aponta o bico para o ar. E ao cair da tarde, sobre este branco imaculado, o poente fixa-se como um grande resplendor. É uma terra levantina que descubro; só lhe faltam os esguios minaretes. Duas cores e cheiro : branco, branco, branco, branco doirado pelo sol, que atingiu a maturidade como um fruto, pinceladas de roxo uniformes para as sombras, e um cheirinho suspeito a cemitério. O fruto que chega a este estado está a dois dedos do apodrecimento, e é talvez por isso que a ideia do sepulcro me não larga nas noites brancas e pálidas em que me julgo perdido num vasto campo funerário..."

in: Raul Brandão, Os Pescadores

fevereiro 25, 2016

Acendiam-se vastos espelhos de mar...


"De vez em quando. [...] acendiam-se vastos espelhos de mar, onde a luz se quebrava ao sabor da aragem, em mil facetas ardentes, até que, empecendo-lhes de todo o brilho, as dumas principiavam a ondular, miseravelmente... // Do lado da terra, pouco a pouco, as serras altas foram-se coando pelo azul do céu; as colunas nivelaram-se; por fim as árvores faltaram: a estrada rastejou, em lanços monótonos, na campina lavrada, com um risco de giz na ardósia limpa. Alargou-se o terreno em planície arenosa, malhada com azebre dos hortejos definhados, onde o hálito do mar se sentia arrefecer, e à vista de Ayamonte um leve aperto no coração dizia-me que já a saudade da paisagem familiar e amada começava ali...” 
Manuel Teixeira-Gomes

fevereiro 11, 2016

Tão embelezadora paisagem algarvia se idealizava...


“ Que lindíssima terra esta, [...], e o que temos nós a invejar à Sicília do Teócritico e mesmo ao panorama voluptuoso da Baía das Baías? E assim que era, naquele momento, a minha de ordinário tão embelezadora paisagem algarvia se idealizava, graças à magnificência do poente. [...] // A esfriou perto de Silves com o despontar da Lua, cuja luz desmaiada, curta, reintegrava os torreões da cidade na sua lendária arrogância. Tudo rescendia à flor das amendoeiras que branquejavam, juntas, no fundo dos vales, como um luar mais denso...e desse perfume se repassava o primeiro sono da minha viagem... [...] // Eu ia correndo o litoral algarvio, que é um ininterrumpido jardim, muito povoado de gente e de arvoredo; as amendoeiras, agora, na realidade do Sol, atraiam de novo as minhas imagens, que nelas pousavam de envolta com as abelhas. [...] //.."
Manuel Teixeira-Gomes

janeiro 29, 2016

De Janeiro a Março as amendoeiras em flor surgem por toda a parte...

De Janeiro a Março as amendoeiras em flor surgem por toda a parte, já em pequenos grupos, já em vastos bosquedos, vestindo as encostas e as várzeas duma fluorescência alva e cor-de-rosa..."


in: Guia de Portugal II-  Estremadura, Alentejo, Algarve, p. 199

janeiro 25, 2016

A escolha do 1.º [post] do ano



A cada começo de ano há sempre uma tentação para inovar, fazer algo de novo ou de diferente, ainda que dentro do mesmo registo, que é a marca do “Ai mê rico Algarve”…
Este ano optámos por um “Postal” pós-moderno, que reflecte o momento presente: uma fotografia fugaz, tirada quase em movimento com um telemóvel, para captar,  numa tentativa de documentar e em simultâneo de testemunhar, um instante, um quadro pitoresco de um presente cheio de contradições e assimetrias...
P.S.B.


dezembro 17, 2015

Algarve florido

"... todo florido é também o Algarve litoral, em pleno Inverno! De Janeiro a Março as amendoeiras em flor surgem por toda a parte, já em pequenos grupos, já em vastos bosquedos, vestindo as encostas e as várzeas duma fluorescência alva e cor-de-rosa. Algumas, de flor branca, dir-se-ia, quando passamos no comboio, que descem dos cerros a correr como um véu alvo e flutuante."

in: Guia de Portugal... p. 199

novembro 30, 2015

Ditado popular

"Quem ir ao céu queira,
Vá-se primeiro a Aljezur
E às bandas de Quarteira"

in: Guia de Portugal, p. 198

agosto 24, 2015

Produção de sal no Algarve no ano de 1791



"No anno de 1791 havia no Algarve 239 marinhas, das quaes 103 estavão incultas, e as outras produzirão 11:281 moios de sal, empregando nos mezes da lavra 437 homens de trabalho por dia; e ainda não havia as que depois se construirão na Mexolhoeirinha e Lagos. Esta producção porém nem sequer era  sombra do que outrora se manipulava nestes portos. "


in: João Baptista Silva LOPES, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, 1.º Volume, Algarve em Foco Editora,1988[1.ª ed. de 1839],pp. 129 e 130

agosto 16, 2015

Marinhas


"O mar, que tão variadas e numerosas especies e generos de peixe sustenta na costa do Algarve, fornece ao mesmo tempo abundante e excellente quantidade de sal para os aproveitar. Em quasi todos os portos, taes como Castro Marim, Tavira, Faro, Mexolhoeirinha, Portimão, Alvor, e Lagos, ha marinhas que produzem sal em abastança, não só para a salga das pescarias, mas para exportar para o estrangeiro."



in: João Baptista Silva LOPES, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, 1.º Volume, Algarve em Foco Editora,1988[1.ª ed. de 1839],pp. 129 e 130