maio 20, 2016

O marítimo de Olhão

"O marítimo de Olhão tem, como nenhum outro, um grande sentimento de igualdade: estende a mão a toda a gente. É que no mar os homens correm os mesmos perigos. São também profundamente religiosos, porque estão a toda a hora na presença de Deus. Duas tábuas, a fragilidade e a incerteza forçam-nos a contar consigo e com a companha. Arriscam a vida para salvar a dos outros: hoje por ti, amanhã por mim. Homens simples porque a profissão é simples e o meio, grande e eterno, não os corrompe. E, como o mar abundante e pródigo não tem cancelas, são generosos, imprevidentes e comunistas. Detestam os tribunais, que não compreendem, e ignoram a vida da terra. Se a mulher lhes morre, não entram em licitações com os filhos: deixem-lhes a eles o barco e as redes e tomem conta do resto. Reparei que em todas as casas havia uma gaiola com um pintassilgo. Os homens do mar tiveram sempre uma grande ternura pelas aves."

in: Raul Brandão, Os Pescadores

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