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abril 01, 2016

A propósito das Crónicas Algarvias e do seu autor

Alguns autores e obras são recorrentes no blog, porque sim, é apenas uma questão de gosto pessoal. Por diversas vezes citamos a obra "Crónicas Algarvias" de Manuel da Fonseca, fruto de um périplo pelo litoral algarvio, de Vila Real de Santo António a Sagres, no Verão de 1968, durante 16 dias e que se materializaram em 16 artigos publicados no jornal "A Capital" de 1 a 16 de Agosto desse ano.

Estes artigos foram então publicados com os "cortes" da censura política da época, no entanto em 1986, o autor republica-os, já sem "cortes", com o título "Crónicas Algarvias" -
Manuel da Fonseca - Crónicas Algarvias - Editorial Caminho, 3ª ed., Lisboa, 2000.

janeiro 22, 2015

A alegre vida de Albufeira

«Enquanto almoço, observo o movimento. Camionetas de luxo despejam excursões coloridas de turistas, que logo preparam as máquinas fotográficas. Carros abertos, barulhentos e de dois lugares, sempre um rapaz e uma rapariga, ultrapassam os automóveis familiares, rodam por entre mulheres de mini-saia, homens de calção e camisola. Grupos lentos de camponeses passam, olhando. Vieram para ver, não para viver, a alegre vida de Albufeira.»



in: FONSECA, Manuel da, 1987, Crónicas Algarvias, Caminho, 2.ª Edição.

janeiro 19, 2015

Albufeira vista por Manuel da Fonseca

«Reentro na rua que sai do túnel da praia. Percorro uma espécie de feira. Há cestinhos de palma, alcofas, chapéus de palha, malinhas de mão, bijutarias. Deste último artigo a maior parte dos vendedores são estrangeiros, rapazes e raparigas.

Na avenida, lojas, o cinema. A esquina, num terraço de toldos, que dá sobre o jardim, um restaurante. Subo a escada de pedra, sento-me debaixo de um toldo.»



in: FONSECA, Manuel da, 1987, Crónicas Algarvias, Caminho, 2.ª Edição.

janeiro 17, 2015

"Tudo velho"

«Subo ao terreiro da casa do peixe. Para lá da esquina, sigo por uma rua íngreme. E, como se tudo, casas e ruas, fosse lavado de cal e sol, subindo sempre, chego ao coração da antiga Albufeira. Rua da Igreja Velha, Rua do Correio Velho. Tudo velho, ruas, becos, vielas. Mas tudo caiado e limpo, tudo varrido do vento do mar. Velhos, velhas, crianças, pescadores. Redes como estores, a taparem as portas. Cheiro a peixe.»


in: FONSECA, Manuel da, 1987, Crónicas Algarvias, Caminho, 2.ª Edição.

janeiro 15, 2015

A esplanada e o túnel

«A esplanada, passado o túnel, assenta em três áreas distintas, cimentadas ou de piso de lájeas. À esquerda, a porta de entrada para o hotel, secção de turismo, loja de artefactos da região, bilhetes-postais, cafés, sandes e gelados, refrescos. Fora, mesas sobre toldos redondos, cadeiras articuladas, que se dobram, a encostos graduados: de repousar sentado, reclinado, até se estenderem, como camas estreitas; de estar de óculos escuros ou de olhos fechados, e não por pudor em qualquer dos casos, sou seminu a bronzear o mais que possa ser em toda a parte do corpo




in: FONSECA, Manuel da, 1987, Crónicas Algarvias, Caminho, 2.ª Edição.

janeiro 12, 2015

Crónicas Algarvias - Albufeira

«Desço da camioneta no jardim onde o vale, estreito até ali, se abre numa curva e alarga pela avenida até à praia dos pescadores. Com redes estendidas, barcos varados na areia, todos de proa voltada ao mar. Aos lados, as arribas tapam-se de casas, num amontoado de paredes de cal contra o azul do céu.» 


in: FONSECA, Manuel da, 1987, Crónicas Algarvias, Caminho, 2.ª Edição.

janeiro 10, 2015

ainda sobre as crónicas algarvias...

Continuação do post anterior...

"Apesar de, com a passagem dos anos, se ter ido esquecendo "dos textos enodoados pelos sórdidos carimbos", Manuel da Fonseca guardou nove das 16 crónicas manchadas pela intervenção da Censura. No livro recuperou as passagens cortadas, assinalando-as em itálico.
Essa é a primeira surpresa destas Crónicas, assim recuperadas à cobardia inerente a qualquer acto censório (seja qual for a sua justificação política, ideológica e cultural), junta-se aqui a mais absoluta mediocridade, a marca da mentalidade mais rasteira. Em Vila Real, um pescador acha "muito demorado" o projecto da ponte e da barra (só resolvido quase um quarto de século depois): o censor permite o "demorado", mas corta o "muito". Queixas sobre impostos, custo de vida, exploração do turista, construção nas arribas - tudo cortado.
O Algarve de que fala Manuel da Fonseca já não existe. Mas ele soube captá-lo no momento em que ia transformar- -se. Esse talento raro basta para recomendar-lhe a leitura hoje.”


Por Albano Matos, in: DN

janeiro 09, 2015

Crónicas Algarvias de Manuel da Fonseca

“No Verão de 1968, Mário Neves, director adjunto de A Capital (então renascida a partir de uma cisão no Diário de Lisboa), convidou o escritor Manuel da Fonseca a ir ao Algarve e contar aos leitores os 16 dias que por lá andaria de viagem, de Vila Real de Santo António a Sagres.

"Feitas de arremessos de entrevistas, encontros com amigos, conversas ocasionais, recordações", as crónicas seriam publicadas de 1 a 16 de Agosto, sob o título genérico de O Desafio do Algarve. Dezoito anos mais tarde, quando a Caminho as recuperou e editou em livro - Crónicas Algarvias -, o autor antecedeu-as de um prefácio em que revelava a luta desigual que travara com a Censura, cujos cortes o obrigaram a "amenizar" certos passos, mesmo assim cortados de novo. As provas regressavam com as marcas do lápis azul riscando o texto (ou certas passagens) e o carimbo vermelho com a indicação "Serviços de Censura/Sede Autorizado com cortes"...

continua...